Aporofobia: a sociedade brasileira e o ódio aos pobres
TEXTO I
Aporofobia significa aversão, medo e desprezo aos pobres e desfavorecidos financeiramente. O termo, que se tornou um neologismo no Brasil, deriva do grego, da junção das palavras á-poros [pobres] + fobos [medo]. Ele foi usado pela primeira vez em meados dos anos 90 pela filósofa espanhola Adela Cortina e traduz uma patologia social que se manifesta na aversão a alguém que é percebido como diferente.
TEXTO II
A palavra "aporofobia" tem ganhado holofotes com as denúncias feitas pelo padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua. Entre as fotos postadas em suas redes sociais, ele mostra elementos da chamada "arquitetura antipobres", que impedem, nos espaços públicos, a estadia, o descanso ou a passagem de pessoas em situação de rua. "Grades, dutos de água, pedras pontiagudas. Há os que querem disfarçar com vasos e com paisagismo", diz ele. Lancellotti, no entanto, reforça que isso não significa que o desejo é que essas pessoas permaneçam no relento, mas sim que haja uma resposta humanizada ao problema. "Temos que sair da hostilidade para a hospitalidade. É fundamental haver um programa governamental que garanta moradia para os mais pobres", conclui. A questão é que a esmagadora maioria dos municípios não está preparada para ajudar essa parcela da população da forma mais adequada.
TEXTO III
Para James Moura Jr., Dr. em Psicologia Social e pesquisador que estuda as consequências da aporofobia, é preciso entender a pobreza de uma perspectiva multidimensional para analisar alguns impactos sutis desse preconceito.
“A pobreza é uma privação para além da questão financeira, quando a pessoa é privada de formas de ser e fazer – por exemplo, a falta de acesso à educação, à mobilidade e à cultura”. Para o pesquisador, a aporofobia acontece no Brasil de forma sistêmica. “A existência de elevadores sociais e de serviço são indícios desse preconceito”. Por isso também, de acordo com Moura Jr., muitas pessoas podem não se sentir bem-vindas em um lugar mesmo quando podem pagar por ele. Entre as afirmações de preconceito, o pesquisador lembra de falas como a do Ministro da Economia Paulo Guedes em um evento privado, que comentava o período em que o dólar estava a R$ 1,80. “Todo mundo indo pra Disneylândia, empregada doméstica indo pra Disneylândia, uma festa danada”, disse na ocasião.
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